quinta-feira, 8 de julho de 2010

Homenagem a D. Perpétua, minha avó!

Hoje, nove de julho, completam treze anos do falecimento de minha amada, querida e saudosa avó materna, D. Perpétua.
Assim como seu nome, sua lembrança é ainda hoje, mesmo depois de mais de uma década de seu desaparecimento, eterna e perene entre seus filhos, netos, parentes e amigos.
Assim como manda nosso costume, na data de aniversário do falecimento de um ente próximo, deve-se acender uma vela de 24 horas, em lembrança e para elevação da alma.
Minha avó era uma mulher estraordinária. De uma força e um caracter tão sólido que era quista e amada por todos que a rodeavam.
Assim como a "Eshet Hail" dos Provérbios do Rei Salomão, era a mulher que se levantava de madrugada, para preparar o desjejum dos homens que saiam para trabalhar. Era a mulher que costurava, que consertava as roupas de seu esposo e de seus filhos. Era a mulher que se preocupava não somente em "pôr a comida sobre a mesa", mas prepará-la saborosa e atrativa para os seus. Era a mulher que se preocupava com os necessitados e com aqueles que não tinham. Era a mulher que sempre tinha a casa aberta e pronta para receber convidados e hóspedes. Era a mulher que não tinha preguiça. Trabalho era seu sobrenome. Conhecia de horticultura, de agricultura, de pesca, de industria.
Honestidade, decência, valores, respeito, honra, confiança, amizade, limpeza, organização, para ela não eram simplismente conceitos, mas um estilo de vida. Dizia que a maior conquista de um homem não está naquilo que possui ou naquilo que representa, mas no fato de poder ir deitar-se, reclinar sua cabeça sobre o travesseiro sem vergonhas, sem medos e sem preocupações por ter feito algo mal ou errado. Uma consciência tranquila, eis o maior tesouro de um homem segundo minha amada avó.
Uma das coisa que me dão forças para viver é a lembrança do amor de minha avó por mim. Para ela eu não era somente um neto, era o filho de sua filha. Minha avó dizia que "filhos de minhas filhas meus netos são, filhos de meus filhos, serão ou não!?".
Depois dos meus quatro anos, me tornei companheiro de caminhadas da minha avó. Para que ela não estivesse sozinha, eu ia com ela para as compras, para os negócios, para viagens. E o mais especial disso era que conversávamos, falavamos de tudo e de todos. Eu perguntava, ela respondia. Se não sabia, dizia que não sabia, assim, simplesmente.
Me dava concelhos. Tentava me orientar para que fora um bom homem. Me falava do passado, das aventuras da família. Nossas conversas eram povoadas por nomes de gente que nunca cheguei a conhecer. No mais cheguei a estar junto aos túmulos de alguns deles. "Tertuliano, Sebastião, João Grande, Mariquinha, Preciosa, Adão, Donária, Vicenta, Otaviano, Mário, ..." Nomes que me eram estranhos, diferentes dos nomes de minha época e que pareciam ter saído de uma estória de "João e Maria".
Minha avó enriqueceu minha vida com histórias de assombrações, de caçadas, lendas da mata, de enchentes, de doenças desconhecidas e de curas milagrosas. De benzidos e benzedeiros. Dos antigos farmacêuticos que faziam o lugar de médicos. Dos partos realizados nas casas. Dos banhos que tinham que dar nos mortos. Dos mortos que eram enterrados nos quintais das casas ou quando encontravam um morto desconhecido, que era enterrado alí mesmo, no caminho, junto de uma cerca, na encruzilhada entre dois sítios, ou debaixo de uma árvore de laranja grande, que depois ficava assombrada!
Das árvores que tinham ouro enterrado debaixo e que ninguém conseguia desenterrar, porque maus espíritos não permitiam que ninguém o desenterrasse para que as almas dos seus antigos donos permanecessem em sofriemento eterno.
Com minha avó D. Perpétua, aprendi todo o ciclo de produção do café. Fazer as mudas ou recolhe-las do cafezal, para depois plantá-las, com o espaçamento correto. Proteger as mudas das pragas, das formigas, das ervas-daninhas. Esperar três anos para poder colher o café. Reconhecer o café maduro. Vermelho brilhante e doce. A secagem. A pilagem para a descasca.O abano. A torrefação, que produz um cheiro maravilhoso. A chumbagem. A pilagem e a repilagem. A coagem para chegar ao finíssimo e puro café!
Outra maravilha perdida nos dias de hoje. O café preparado com garapa! Garapa fresca moída na hora! Garapa fresca moída no engenho entalhado e construído por meu avô.
Quando minha avó faleceu, eu não perdi somente uma pessoa amada, mas sim toda uma referência. Quando perdi minha avó, perdi um mundo inteiro, todo um mundo que deixou de existir para mim.
Mas resquícios desse mundo de outrora persistem nas lembraças que decoram as paredes dos meus pensamentos.
 
Uma surpresa agradável e inesperada foi quando na primeira visita que realizei no norte de Israel, num jardim botânico, me deparei com um pé de Suiná.

 O suiná é uma árvore espinhosa muito usada em cercas por causa dos seus espinhos. Na época da florada, ela produz um caixo de pequenas flores com formato de uma faca ou espada. Por isso nós crianças chamávamos essa flor de facãozinho! Era uma árvore muito comum na Mata Atlântica e por isso jamais pensei encontrá-la no Oriente Médio e em Israel!