quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um Pouco de Nostalgia.

Neste momento, estou lendo dois livros. Um foi presente de um amigo, um espanhol muito religioso, de linha haredi-sefaradí e outro foi um empréstimo. O interessante é que os dois livros chegaram as minhas mãos no mesmo dia, porém, ainda que não intencionalmente, os dois livros tratam do mesmo tema porém de pontos de vista totalmente e absolutamente opostos.
"A Existência e como vivê-la."
Para um, a vida é um aglomerado de circunstâncias, sentimentos, fatos, histórias de uma complexidade absurda e dantesca, que merece um profundo e difícil exercício de análise e entendimento. Para o outro a vida é simples e leve, bastando apenas conhecer alguns "simples" princípios e guiar-se por eles, sendo assim possível viver em constante e imutável bem estar e felicidade.
Não quero tratar da questão de quem tem a razão ou a verdade. Quero apenas registrar que hoje, depois do trabalho, como tantas outras vezes no passado, peguei minha bicicleta e fui para o calçadão da praia. Sentei num dos bancos e fiquei admirando a baía de Heifá, com o Monte Carmel ao sul, como um imenso monstro adormecido diante do mar e ao norte o tímido ístimo da cidade de Ako. No meio da baía, navios descansam, ou esperando para partir ou para entrar no porto de Heifá.
Alí na praia e no calçadão, solítários, idosos, casais, crianças, alguns com seus cães, outros com suas músicas, uns ainda com seus pensamentos. Eu era um desses. O vento soprava forte. A música da Galgalatz dava o rítmo. O sol brilhava na água do mar... e eu pensava no texto que dizia que um rabino uma vez estava na sacada de um hotel, de frente pro mar e assistia o lento pôr do sol. Seu amigo extranhando a demora e o sílêcio prolongado, vai até ele, e se surpreende ao vê-lo chorando. Então lhe questiona o que passa, no que pensa, e recebe a resposta de que a emoção vem do tremor e do reconhecimento da pequenes e efemeridade do homem frente a monstruosa e gigantesca obra da criação. Tantas dores, tantos sorrisos, tantas esperanças, tantos desencontros e decepções, tantas batalhas, umas ganhas outras não, tantos empates, tantas certezas, mas tanto mais duvidas e incertezas, e para quê? Somos como o dia que passa, ou como a chama de uma vela, que luta pra ter seu lugar, sua luz, seu calor, seu brilho, mas que tão facilmente se extingue, se apaga ao mais leve sopro da brisa ou da respiração faceira e traquina de uma criança!
Fiquei pensando naqueles olhos de um azul tão profundo como o mar que se esparramava diante de mim. Naquelas mãos delicadas, mas de uma força gigantesca, que me apoiaram em horas tão difíceis. Naquela voz tão doce que se preocupa em ser mais doce ainda quando pronuncia meu nome: "Aaariieeeh", assim, como uma menina faceira, cheia de malícia e inocência ao mesmo tempo, graça e leveza de uma adolescente num corpo de mulher. Daquela maneira de inclinar a cabeça para baixo e olhar para cima para me mirar dentro dos olhos que me faz sentir como se estivesse nú diante dela.
Estava alí, pensando porque pensava nela, assim como pensei em outras que já passaram pela minha vida, e que nenhuma delas está hoje ao meu lado. No amor e na paixão que tantas vezes veio e se foi, e que ainda virá e se irá como a chama da vela, tão frágil diante do vento da vida, que tudo apaga e nada mais sobra do que a lembrança, a saudade e uma lágrima diante do pôr do sol, na baía de Heifá, em Israel.

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