segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Lição Que Aprendi com a Água Viva.

Bem, como parte do meu progeto de vida, está também, entre tantas coisas, passar a ter uma vida mais "movimentada", e quando digo isso, o digo literalmente, porque devido a minha maneira de ser, seria capaz de passar todo o dia sentado, lendo, escrevendo, pesquisando, estudando...
O problema é que D´s, Bendito Seja, não nos fez árvores (que são imóveis), mas homos mobiles, ou seja, que se movimentam. Me recordo que meus avós sempre repetiam que o homem "necessita" trabalhar, entendendo-se por trabalho alguma ocupação que o mantivesse em constante movimento e esforço durante o dia. Eles (Doña Perpétua e Seu Nérico - meus avós de bendita memória) diziam que um homem que não trabalha (se moviementa) está condenado a morrer (cedo, logo, breve).
Seguindo o conselho deles, já que não sou campesino e não tenho que pegar na enchada todo dia, procuro fazer uma caminhada, pra esquentar os músculos, forçar a circulação, melhorar a oxigenação do cérebro e dos extremos, fazer funcionar o intestino, os rins, o fígado e o sistema endócrino em geral.
A vantagem que eu tenho é que por "VIVER" em ERETZ ISRAEL, não simplesmente faço caminhada, mas faço A Caminhada. Só para terem uma idéia, eu moro numa região que no passado pertenceu a Tribo de Asher. Assim, se vou caminhar junto ao mar, estou em Asher. Porém as vezes eu quero ir em direção ao campo, e por isso vou em direção a Kfar Bialik, no sentido do oriente, mas aí já estou em terras que pertenciam a Zvulun.

 Agora voltando ao que interessa.
Hoje, pela manhã, fui fazer a minha caminhada. A manhã estava agradável, nem quente nem fria, estava melhor dizendo "morna". Um presente depois dos dias de frio e chuva que tivemos. Não ventava muito, e no meio da semana as ruas e a praia estão bem vazias.
Por onde eu caminho, há parques, terrenos ainda vazios para uso do KKL (Fundo e Bureau de Posse e administração da Terra em Israel), condomínios antigos, tudo servido de largas avenidas, amplas calçadas bem sinalizadas para pedestres e especialmente feitas para Atividade Física, como caminhadas e ciclísmo. Alguns lugares lembram alguns bairros de Santos e Praia Grande, uma mistura de classe média decadente, com prédios novos e velhos, casas simples e algumas bem ricas, e o ar cheirando a maresia.
Bem, fazia minha caminhada, já pela orla, na areia, quando me dei com uma cena interessante. Na praia, jogada para lá e para cá pelas marolas, uma água viva, mas não uma água viva qualquer, uma "baita" de uma água viva que devia ter no mínimo uns cinco a oito quilos. O diâmetro da cúpula tinha pelo menos uns 45 cm e de altura quase uns 30 cm. Era enorme! Sei... sei... sei que existe bem maiores, e até as chamadas gigantes, que pesam mais de cem quilos, mas eu jamais tinha visto uma como a que eu ví hoje.
Parei e fiquei contemplado a agonia daquele belo (perigoso, mas belo!) ser vivo, que viajou por sei lá quantos milhares de quilômetros de oceanos e mares, mas que agora estava alí, sendo jogada de um lado para o outro sem poder fazer nada.
E eu nem podia ajudar. Se tentasse tocá-la seria queimado pelo veneno que ela possui. E tudo isso porque? Porque a água-viva é um ser que não tem movimento próprio. Ela apenas frutua nas águas salgadas dos mares sem poder escolher para onde vai, ao sabor das marés. U
Um ser tão belo, tão perigoso, mas que não podia salvar-se a si mesmo. Condenada a morte pelas simples e fracas marolas que rebatiam na areia, hoje, durante a maré alta.
Eu não sou muito chegado em psicologia existencialista, na verdade detesto. Mas hoje não pude deixar de comparar nossas vidas com aquela água-viva.
O sofrimento, a dor, a perda, enfim, muita coisa ruím em nossa vida acontece porque somos como águas-vivas, que não têm domínio sobre nossos caminhos. Somos jogados de lá para cá pela maré da vida. As vezes isso parece bom, agradável e compensador. Viajamos por mares e oceanos, vemos maravilhas, desfrutamos, até que um dia uma traiçoera correnteza nos empurra em direção à praia. Mesmo aí muitos de nós nos divertimos. Finalmente nossos longos tentáculos tocam o fundo do mar... algo que não havíamos esperimentados antes! Que barato! Mas de repente, pufft... estamos encalhados. As ondas que um dia nos deram o prazer de subir e descer suavemente no alto mar, agora nos golpeiam violentamente. Estamos cobertos de areia, areia que machuca e incomoda... que trás uma sensação de desconforto...
Aos poucos começamos a nos despedaçar... nosso corpo frágil não suporta a violência das ondas.
Em pouco tempo percebemos que estamos condenados a morte. Por causa de nossos "espinhos" venenosos, ninguêm virá nos ajudar. Acabou. Agora é só esperar a morte chegar.
Pode parecer piegas, simplória ou boba essa comparação, mas é exatamente isso o que ocorre com muitos de nós, e simplesmente pelo fato de deixarmos a "Vida" nos levar, assim como o mar "leva" as águas vivas.

Um comentário:

  1. Se não aprendermos a arcar com nossas escolhas,se não recolhermos nossos espinhos, se não aprendermos nada, certamente seremos como a água viva: atolados, à beira da morte.
    Às vezes não faz mal uma ajudinha de outro lugar, de outra pessoa, nem todos são ameaça.
    Sejamos melhores. A vida é assim. Um dia de alegria, outro de tristeza. Um dia mais fácil, outro mais difícil.

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