domingo, 14 de fevereiro de 2010

Maravilhas da Literatura! Uma citação de Elie Wiesel.

O que me encanta e me faz passar horas e horas da minha vida lendo, são as  pequenas frases, descrições e pensamentos que saltam do intelecto do autor, emaranhado numa história ou conto, verídico ou fantasioso, mas pleno, transbordante de verdade, verdade sutil, verdade filosófica, que de tão escondida no texto, pode ( e passa) muitas vezes passar desapercebida pela maioria dos leitores, ainda mais daqueles ocasionais ou forçados por alguma obrigação curricular, etc...
Estava num "Sebo", como sempre tentando garimpar alguma jóia entre tanta lama e entulho e acabei por ter sorte. "La Locura de D-os", de Elie Wiesel, uma pequena brochura, na verdade uma Peça escrita em dois atos.
O nome do autor chama muito mais a atenção do que o volume em si, despretencioso,  porém reservava uma bela surpresa, literatura de excelente nível.
Porém, das 147 páginas de texto, o que me saltou aos olhos, ao coração e ao meu sentido de leitor, foi uma citação específica, que vou trancrever aqui, porque encerra em si uma definição que talvez seculos de filosofia não puderam expressar.


" O Careca (Oficial de Polícia da Ex-União Soviética) balança a cabeça: nunca compreenderá a esses judeus. Sempre descontentes consigo mesmo."  "La Locura de D-os" de Elie Wiesel, Acervo Cultural/Editores, Buenos Aires; Traducción de Pablo Palant.(1970).

Elie Wiesel aqui, consciente ou não descreve de maneira brilhante o caráter coletivo do judeu de todos os tempos. Ao meu ver o ato de "descontentamento", "inconformidade" é o motor, é o vetor que faz do judeu um revolucionário de todas as épocas! O descontente Avraham quebrou os ídolos e declarou-se o primeiro monoteísta. O descontente Yaacov queria para sí o mérito da progenitura, ainda que era o segundo filho. O descontente Yosef não acreditava suficiente o amor e o carinho desvelado por seu velho pai, mais planteava a admiração e a aceitação (acho que esta mais do que aquela) de seus outros onze irmãos. Moshe, príncipe na Casa do Faraó, possível herdeiro do Trono do Egito, não estava contente com o luxo, com o status e com as facilidades que tinha. Deixou tudo e fugiu para o deserto, buscando a resposta de como encontrar uma vida plena de Justiça, de Retidão e de Valores, coisas que ele não conseguia ver nos seus pares dominantes no Egito. A lista é enorme e interminável... podendo acrescentar todos os profetas (e alguns bastante inconformados, como Eliahu Anavi, Elisha, Yonah, Yeremiahu... ) e mais próximos de nós outros nem tanto santos, mas não menos inconformados, como Max, Hertzl, Hirsch, Abravanel, Rav Kok, Eisntein, Freud, Ben Gurion, Sabin, Rabi Menachen Mendel Schneerson, Simon Wiesenthal, Asher Ginzberg (AHAD HA`AM), Antonio José da Silva, o judeu, Maimônides e ... tantos... tantos... outros... que inconformados com o mundo tal como ele era, descidiram mudá-lo, melhorá-lo.
Não estou aqui a fazer juízo de valores, quem foi bom, quem não foi, quem estava correto e quem não estava... mas sim relembrando que esta tem sido a "artéria" que tem dado vida a milhares de personalidades que apesar de virem de um povo tão pequeno, perseguido e despresado, têm dado suas vidas por aquilo que acreditam. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário