segunda-feira, 14 de junho de 2010

Orvalho Que Tanto Amo.

Hoje cheguei no trabalho mais tarde.
Passei como sempre por aquele corredor já tão conhecido, tão transitado. Na verdade eu não preciso passar por alí, mas não resisto a possíbilidade de vê-la, ainda que seja por uns poucos segundos.
A porta do escritório dela estava fechada, e uma imensa sensação de decepção me invade.
Sigo para o meu trabalho. Tento não pensar, não ficar triste por algo tão bobo, mas só a idéia de não vê-la me é insuportável.
Chego no meu departamento. Cumprimento o meu pessoal. Todos são cordiais. Como tentativa de esquecê-la começo a trabalhar, a ocupar-me de minhas tarefas. De repente, ouço uma voz conhecida, uma voz desejada. Ela sentiu minha falta. Percebeu que quando passei por sua sala, justamente nesse momento ela havia saído "um pouquinho". Ela sabia que eu ia trabalhar a tarde toda e por isso não íamos nos encontrar. Então ela vem me ver.

 Linda, elegante, perfumada. Ela me recebe sempre com um sorriso e aqueles olhos azuis que me olham, me atravessam e me fazem me sentir como um menino nú!
Trocamos umas poucas palavras sobre minha manhã, sobre o que eu fiz antes de chegar ao trabalho. Algumas coisas tenho que dizer mais de perto, para que não me ouçam. Todos nos observam, discretamente, porém nos observam. Outros me invejam. Gostariam que ela viesse por eles, mas não, ela vem por mim.
Acho que por causa dessa inveja, tentam incomodar. Se intrometem e não nos deixam um minuto em paz.
Ela tem tempo, mas desiste. Se vai. E eu já tenho meu dia salvo. Ela antes de ir, me lembra que tem algo para mim. Porque ela não trouxe? Mais um motivo para que eu vá até a sala dela. Combinamos que apareço por lá, quando tiver um tempinho.
Passa meia hora. Ela volta. Como eu gosto quando sem esperar ouço aquela voz chamar o meu nome... Aaariêeee... Como uma menina que tenta chamar a atenção... que tenta "fazer doce"!
Ela tem um documento. Precisa averiguar algo comigo. São minutos preciosos.
Como tenho uns minutos livres, decido ir com ela, buscar o que ela tinha para mim.
Ela pensa em mim, se preocupa comigo, procura me ajudar para que eu me sinta bem, para que eu esteja feliz, contente. Ela me compra coisas, presentes, lembrancinhas.
Trocamos palavras, sorrisos, olhares... uma dança, um balé, um jogo... como duas crianças que começam a aprender do amor mas não sabem como demonstrá-lo.
A deixo. Precisamos trabalhar.
Volto pro meu departamento. Feliz. Uma felicidade efêmera, eu sei, mas feliz.
No meio da tarde, estou só. Todos já se foram. Fiquei pra terminar o serviço. Não espero ninguém. Essas horas costumam ser chatas, monótonas.
Estou ocupado, ouvindo Marisa Monte. De repente, assim como um sonho, ela entra, de mansinho, em silêncio. Que boa surpresa. Ela vem com um presentinho para mim. Mais um! Algo bobo, mas tão importante, porque no fim só queria dizer que pensou em mim. Vamos ter uns minutos só pra nós dois... uma oportunidade de ouro... mas não... não pode ser. Aparecem algumas pessoas que não deveriam estar alí. Ela se sente um pouco constrangida, difícil explicar o que ela faz alí a essa hora. Sair discretamente é o melhor, enquanto eu levo meus inoportunos visitantes de volta ao foco do trabalho.
Eles parecem se esquecer dela, mas enquanto eu os atendo, minha mente, minha alma, meu ser,  vagam pela imensidão daqueles olhos azuis.

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